terça-feira, 29 de março de 2016

«Haec dies quam fecit Dominus: exsultemus et laetemur in ea»

 - «Este é o dia que o Senhor fez; exultemos e alegremo-nos nele». Aleluia!
"Essa noite será de vigia para todos os filhos de Israel, de geração em geração, em honra do Senhor”.
Celebramos nesta noite santa a Vigília Pascal, a primeira, melhor, "a mãe" de todas as vigílias do ano litúrgico. Nela, como canta repetidamente o Precónio, volta-se a percorrer o caminho da humanidade, desde a criação até o acontecimento culminante da salvação, que é a morte e a ressurreição de Cristo.
 A luz d'Aquele que "ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram" torna "clara como o dia" esta noite memorável, considerada justamente o "coração" do ano litúrgico. Nesta noite, a Igreja inteira vigia e torna a percorrer, meditando, as etapas significativas da intervenção salvífica de Deus no universo.

"Uma noite de vigia em honra do Senhor". Duplo é o significado da solene Vigília Pascal, tão rica de símbolos acompanhados por uma extraordinária abundância de textos bíblicos. Por um lado ela é memória orante das mirabilia Dei [maravilhas de Deus], ao relembrar as páginas capitais da Sagrada Escritura, desde a criação ao sacrifício de Isaac, à passagem do Mar Vermelho, à promessa da nova Aliança.


 Por outro lado, esta sugestiva vigília é expectativa confiante no pleno cumprimento das antigas promessas. A lembrança da obra de Deus culmina na ressurreição de Cristo e se projeta no acontecimento escatológico da parusia. O que Deus prometeu se cumpre em Jesus, a nova Aliança!

Vislumbramos assim, nesta noite pascal, o amanhecer do dia que não tem mais ocaso, o dia de Cristo ressuscitado, que inaugura a vida nova, "os novos céus e a nova terra".
Singular Vigília duma noite singular. Mãe de todas as Vigílias, é a vigília durante a qual a Igreja inteira permanece à espera junto do túmulo do Messias, sacrificado na Cruz. A Igreja espera e reza, ouvindo novamente as Escrituras que repercorrem toda a história da salvação.
Nesta noite, porém, não são as trevas que predominam, mas o fulgor duma luz inesperada, que irrompe com o anúncio desconcertante da ressurreição do Senhor. A espera e a oração tornam-se então um cântico de júbilo: «Exultet iam angelica turba caelorum...» - «Exulte de alegria a multidão dos Anjos...».
 Inverte-se completamente a perspectiva da história: a morte cede a passagem à vida. Vida que não morrerá mais. Daqui a pouco cantaremos, no Prefácio, que Cristo «morrendo destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida». Eis a verdade que proclamamos por palavras, e sobretudo com a nossa existência. Aquele que as mulheres julgavam morto, está vivo. A experiência delas torna-se a nossa.

Ó Vigília recheada de esperança, que exprimes em plenitude o sentido do mistério! Ó Vigília rica de símbolos, que manifestas o coração mesmo da nossa existência cristã! Nesta noite, tudo se resume prodigiosamente num nome: o nome de Cristo ressuscitado.
Ó Cristo, como não agradecer-Vos pelo dom inefável que nos concedeis nesta noite? O mistério da vossa morte e ressurreição transvasa-se para a água batismal, que acolhe o homem antigo e carnal e purifica-o conferindo-lhe a própria juventude divina. Daqui a pouco, seremos imersos no vosso mistério de morte e ressurreição, ao renovar as promessas batismais.
Desde os seus inícios, a comunidade cristã situou a celebração do Batismo no contexto da Vigília Pascal. Também aqui, nesta noite, deveríamos ter catecúmenos, que mergulhados com Jesus na sua morte, com Ele ressuscitam para a vida imortal. Deste modo renova-se o prodígio do misterioso renascimento espiritual, atuado pelo Espírito Santo, que incorpora os neo-batizados no povo da nova e definitiva Aliança sancionada pela morte e ressurreição de Cristo.



Graças ao Batismo passamos a fazer parte da Igreja, que é um grande povo peregrino, sem limites de raça, língua e cultura; um povo chamado à fé a partir de Abraão e destinado a tornar-se uma bênção no meio de todas as nações da terra. Sejamos pois, fiéis Àquele que nos escolheu e confiemos-Lhe, com generoso empenho, toda a nossa existência.
Ainda que não tenhamos o batismo, a liturgia convida a todos nós aqui presentes a renovar as promessas do nosso Batismo. A nós o Senhor pede para Lhe renovar a expressão da nossa plena docilidade e total dedicação ao serviço do seu Evangelho.
Caríssimos Irmãos e Irmãs! Se às vezes esta missão vos aparecer difícil, recordai as palavras do Ressuscitado: "Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28,20). Assim, na certeza da sua presença, não temereis qualquer dificuldade nem obstáculo. A sua Palavra vos iluminará; o seu Corpo e o seu Sangue servirão de alimento e amparo no caminho quotidiano para a eternidade.

Ao lado de cada um de vós permanecerá sempre Maria, a Mãe e Serva, Virgem do orvalho matutino que a cada novo dia experimentamos, como esteve presente entre os Apóstolos amedrontados e desconcertados na hora da prova. E, com a sua fé, Ela vos indicará, para além da noite do mundo, a aurora gloriosa da ressurreição. Amém.

sábado, 26 de março de 2016

Ato Litúrgico da Paixão do Senhor

Revivemos na fé a Paixão do Senhor. Ele que com sua morte nos abriu o caminho para a vida, nos ensinou a derrotar o ódio pelo amor. A Igreja nasce do supremo ato de amor de Jesus na cruz.
Assim como Cristo entregou sua vida livremente em favor da humanidade, são muitos os irmãos e irmãs que a perdem em defesa da solidariedade e da paz. Acompanhar o martírio de Cristo, neste dia, é reconhecer que o seu gesto nos faz mais fortes para assumir as nossas próprias dores.
Olhando o Crucificado rezamos por todas as vitimas da violência urbana e rural, pelos que estão às margens da nossa sociedade sendo vítimas das drogas, do desemprego e da fome, nos quais a paixão de Cristo ainda se prolonga.
O Cordeiro pascal deu sua vida para nossa redenção. A Palavra do Senhor relata-nos o mistério do amor de Deus por nós e sua misericórdia.


 A paixão de Cristo, segundo João nos apresenta um Jesus que assume todo o peso da nossa mortal condição humana, com a dignidade soberana do ser Divino.  
 A oração universal é o grande momento de solidariedade com todo o povo de Deus, nascido do gesto de amor do Cristo na cruz. Como Jesus que “no fim de sua vida terrena, fez orações e súplicas a Deus”, a comunidade reza pelas grandes necessidades da Igreja e da humanidade.

 A cruz é o símbolo de Cristo e da vida nova que ele nos dá pela sua morte e ressurreição. Reverenciando a Cruz, nós adoramos o Cristo, nosso Deus e Salvador.

É Cristo que vem ao nosso encontro, é Deus nos alimenta. Que ao recebermos o Corpo de Jesus, seja ele sustento e remédio para nossa vida.

Ceia do Senhor e Lava-pés

 Caríssimos irmãos e irmãs, concluímos nosso grande retiro, que foi a Quaresma no deserto junto a Jesus na sua via-crucis com esta grande festa que ora celebramos, abrindo assim o Tríduo Pascal, solenidade grandiosa de nossa liturgia, de nossa fé, tanto que se desdobra em três dias, isso mesmo, começamos hoje e só concluiremos na Grande Vigília a ser celebrada neste sábado. Na liturgia presente Jesus institui a Santíssima Eucaristia e o Sagrado Sacerdócio! São João, numa linguagem bem particular, quase litúrgica, diz-nos: “Tendo amado os seus, amou-os até o fim”. O amor que se dá e não se impõe, que se abaixa para servir e não se coloca na posição de quem manda, que primeiro se traduz em gestos solidários e só depois busca as palavras que o expliquem, como podemos ver no gesto do lava-pés. Aqui Jesus se manifesta concretamente como é, o Servo Sofredor anunciado por Isaías e que se entrega por nós. Deparamo-nos com Jesus manifestando um gesto de serviço e profunda humildade. Gesto de verdadeiro  e profundo Amor: Sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste mundo ao Pai, depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o extremo.
Para nós cristãos, a celebração da “Páscoa” constitui-se num tríduo celebrativo, isto é, a “páscoa celebrada em três dias”. O tríduo se fundamenta na unidade do mistério pascal de Jesus Cristo, que compreende sua paixão, morte e ressurreição. “O Tríduo pascal, começa com essa, a Missa vespertina da Ceia do Senhor, centraliza-se na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da Ressurreição” e em todo esse intervalo de tempo forma uma unidade que inclui os sofrimentos e a glória da ressurreição. Deste modo, celebramos de quinta para sexta-feira a “Paixão”, de sexta-feira para sábado a “Morte”, e de sábado para domingo a “Ressurreição”.
 
 Na celebração desta Quinta Feira Santa, rememoramos a “Última Ceia” na qual Jesus revelou o seu “Amor em Plenitude” lavando os pés dos discípulos e repartindo com eles o pão. O amor torna-se presente nas mãos que lava os pés e no pão que é repartido. As mãos simbolizam ação, dinamismo. Através das mãos recebemos e doamos. João afirma, no Evangelho, que Jesus é consciente de que o Pai entregou em suas mãos o verdadeiro Amor e, antes de voltar ao Pai, precisa doar este Amor aos seus discípulos: “…sabendo que o Pai havia posto tudo em suas mãos, que tinha saído de Deus e voltava a Deus, se levanta da mesa, tira o manto e, tomando uma toalha, cinge-a. A seguir, põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha cingido”.
No contexto histórico judaico oferecer ao hóspede água para lavar os pés da poeira do caminho era um gesto de cortesia muito comum. Normalmente esse gesto era feito por um servo ou por um discípulo dedicado ao seu mestre. Jesus contraria a tradição e inverte os papéis surpreendendo a todos. O mestre torna-se servo. A lição de serviço, humildade e Amor é testemunhada. A atitude de serviço, humildade e expressão de Amor, simbolizada no lava-pés, foi uma preparação para celebrar com mais dignidade a “Ceia”, conforme disse o próprio Jesus a Pedro: “Se não te lavar, não terás parte comigo”.
Por isso a memória da Ceia do Senhor: “Façam isto em memória de mim” será mero formalismo ou ritualismo se não for expressão viva e atual desse amor total. A Eucaristia jamais pode desvincular-se desse gesto de amor-serviço expresso no lava-pés, sob o risco de negar a própria essência mesma da memória de Jesus que deu a sua vida pelos que ele ama. No pão repartido Jesus entrega seu corpo aos discípulos. Trata-se de uma doação total. No pão está presente o “Amor em Plenitude”. Este Amor que se doa provoca transformação. Agora não é apenas uma transformação social, mas uma libertação do pecado, resgate para uma vida nova.
Quando, na celebração da eucaristia, o pão é repartido, devemos sentir o Amor de Jesus que se doa em plenitude. Amor que alimenta e revigora a nossa vida. Amor que nos compromete com os irmãos e irmãs. Amor que nos faz ser fiéis à vontade do Pai. Jesus pede aos discípulos: “Fazei isto em memória de mim”. O pedido de Jesus aos discípulos estende-se também a todos nós. Portanto, hoje celebramos o Amor presente no pão que se reparte e nos comprometemos em vivê-lo plenamente.

 A Páscoa é o centro da vida e da fé dos cristãos. Trata-se da passagem da morte para a vida, da ausência para a presença, do Amor em plenitude. Paulo, aos Corintios, transmite o novo e definitivo sentido da Páscoa ao afirmar: “O Senhor, na noite em que era entregue, tomou o pão, dando graças o partiu, e disse: ‘Isto é o meu corpo que se entrega por vós. Fazei isto em memória de mim”.
Esta presente liturgia é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja segui-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo. E por outro lado, o mesmo Senhor Jesus nos dá um testemunho maduro da vocação ao serviço do mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus discípulos.


 A Santa Missa é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da Sua paixão, “enquanto ceava com seus discípulos tomou pão…”. Ele quis que, como em sua última Ceia com seus discípulos, nos reuníssemos e recordássemos d’Ele abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim”. Assim podemos afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo nosso Senhor! E mais, com tal gesto Ele institui o Sacerdócio!
 Poderíamos dizer que a alegria é por nós e a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo porque no amor nunca podemos falar estritamente de tristeza, porque aquele que dá e se entrega com amor e por amor, o faz com alegria e para dar alegria. Podemos dizer que hoje celebramos com a liturgia (1ª Leitura) a Páscoa. Porém à da Noite do Êxodo (Ex 12) e não a da chegada à Terra Prometida. Noutra vertente, hoje inicia a festa da “crise pascal”, isto é, da luta entre a morte e a vida, já que a vida nunca foi absorvida pela morte, mas sim combatida por ela. A noite do sábado de Glória é o canto à vitória, porém tingida de sangue, e hoje é o hino à luta, mas de quem vence, porque sua arma é o amor em plenitude do Deus Todo-Poderoso.

Procissão do Encontro

Caríssimos irmãos e irmãs com esta procissão que realizamos queremos, a cada ano, relembrar a paixão e morte de Jesus Cristo através do doloroso encontro entre o Senhor dos Passos e Virgem Senhora das Dores. Nesta procissão a Igreja então reflete sobre o célebre Sermão das Sete Palavras, ou melhor, sete frases ditas por nosso Senhor Jesus na cruz.
Ao olharmos para essas imagens somos movidos a uma profunda conversão e sincera penitência.
Contemplando-as, nossa atitude não pode ser outra senão a dum silêncio grande e profundo, dado que a imagem de Nosso Senhor dos Passos mostra-o com o rosto desfigurado, com a cruz às costas. E podemos nos perguntar sobre o porquê desta cruz!
Jesus carrega a cruz de nossos pecados, de modo especial do grande pecado social da indiferença; quando muitas vezes nós contribuímos para que ele cresça cada vez mais, quando discriminamos, excluímos, desprezamos aquele(a) que é nosso(a) irmão(ã), quando não cuidamos de nossa Casa Comum que Deus nos deu fazendo dela um lugar saudável, no qual a fraternidade e a justiça corram como rios de água viva, mas simplesmente sugamos, exploramos o que podemos, em desatenção às gerações futuras, sem cuidado, só movidos pela ambição dum lado e desleixo do outro . Ao receber a sua cruz, Jesus carrega os pecados e a cruz de cada um de nós.
Vemos na expressão dos rostos das imagens dor e sofrimento. OLHEMO-AS!
Algumas imagens de Nossa Senhora das Dores mostram-na abraçada a uma espada, lembrando certamente a profecia de Simeão: “Uma espada de dor te traspassará a alma”.
Pensemos numa mãe que vê seu filho traspassado pela salvação de outros, e qual a resposta desses outros? De nós, por exemplo, qual nosso sinal de gratidão? Como buscamos corresponder a tal grande amor?

 Meus irmãos e irmãs, contemplando este encontro, busquemos abrir nosso coração e nossa mente para os encontros que devemos fazer diariamente em nossa vida como todos aqueles marginalizados pela sociedade. Nosso Senhor Jesus Cristo, na clareza frente à missão que recebera do Pai, se põe na direção dos homens e com eles estabelece vários tipos de encontro: com as multidões, com os pequenos, individual com diversas pessoas. Dentre esses, vale-nos elencar alguns como:
com as autoridades: civis, militares, religiosas, todas se sentiram incomodadas com a pregação de Jesus. O viram como uma ameaça ao seu comodismo, com seus cuidados aos próprios interesses simplesmente, suas opressões ao povo; enquanto o plano de Deus é de estabelecer a justiça, da prática do amor;
com o povo: contrários à situação primeira, as pessoas simples, pobres, acorriam ao encontro de Jesus e tais encontros eram gratificantes para Ele, porque via uma multidão disposta a receber a salvação que Ele oferecia, a crer na sua Verdade, segui-Lo como único Caminho;
- com a samaritana: um encontro particular. Ela custa entender a atitude daquele judeu de falar com ela. Jesus lhe propõe a libertação. Desse encontro renasce a alegria, a esperança, a certeza de vida fecunda em Cristo;
 

- com o leproso: estes eram obrigados a viver isolados, eram objetos de desprezo. E Jesus quebra o esquema, deixando que o leproso se aproximasse d’Ele. Para Ele impuro não é quem tem a doença de pele, mas quem fabrica a maldade em seu coração. A verdadeira impureza vem de dentro, não se vê. Lição para nós que costumamos classificar as pessoas como “boas” e “más”... ou mediante a simpatia e a antipatia que inspiram;
- com os discípulos: com estes Ele mantém um contato mais constante, deposita neles sua confiança, os instrui. Um o trai; outro se destaca pelo seu amor ardente a Jesus, mas não entende bem a proposta de Jesus e usa de violência; outro irá fraquejar, tirar o corpo fora.
Que seja para nós, esta procissão, grande ocasião de revermos nossa relação com Deus, nossa fidelidade à Igreja, deixada a nós pelo próprio Cristo!
Reflitamos e rezemos, pois, com suas palavras na cruz:

 Para os algozes que o levaram e prenderam à cruz Jesus roga ao Pai:
1.    Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!
"O Senhor nos diz em Sua Palavra para amarmos e orarmos por nossos inimigos. É Ele mesmo quem nos convida para aprendermos d'Ele a viver o perdão".

Ao ladrão arrependido Ele responde:
2. Hoje estarás comigo no paraíso.
"O Senhor nos convida para uma mudança de vida, para uma conversão concreta. E para recorrermos à Sua Misericórdia, confiantes no seu Amor, fiéis à sua Palavra".

Ao discípulo amado e sua Mãe, ciente de ter cumprido sua missão, Ele manifesta:
3.    Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe.
“João cuidou de Maria, mas ela amou muito mais a esse discípulo. Hoje, Jesus está dizendo: 'Mãe eis aí os teus filhos'. Jesus está entregando você agora a Virgem Maria, ao coração dela. Se deixe ser cuidado por ela. Entregue sua família, seus negócios, suas dores, todo o seu ser a ela. Peça à mãe, que o filho atende!”

Ao Pai, numa total manifestação de sua humanidade, rogou:
4. Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?!
“Orar não é dizer belas palavras ao Senhor, mas é abrir o coração. Esse grito pode ser assumido em nossas realidades: 'Porque eu te abandonei Senhor? Porque escolhi estar longe?' É a dor de quem abandonou e quer voltar. Que as dores de nosso Senhor e da Virgem Maria provoquem em nós contrição, e a resposta de nosso coração de voltarmos à vontade do Pai” .

Mais uma vez manifesta sua humanidade diante os soldados:
5. Tenho sede!
“Jesus experimentou a dimensão humana. Ele sabe o que é sofrer e conhece as dores que você tem. Ele tem sede de almas puras, de homens e mulheres bons que O sigam. Tem sede de você, filho, filha. Ele está te chamando! É nossa santidade de vida que vai matando a sede de Deus. Diga ao Senhor a sede que você tem, e não se canse de buscar saciá-la!”

Tendo clareza de haver cumprido fielmente a vontade do Pai, reza em louvor:
6. Tudo está consumado!
"Nada n'Ele há de belo ou atraente. Ele nada resguardou para si, para salvar a humanidade. Renova em nós a graça da fidelidade Senhor, para que possamos ir até o fim por amor, como o Senhor foi. Pela força do alto, do Espírito Santo!”
No culminar de sua Missão, ao fazer-se Homem junto a nós, pôde rezar ao Pai:
7. Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!
"Diante disso, não se tem mais nada a dizer. É hora de olhar para Jesus. O Sangue que resta ainda escorre pelo Corpo. Cabeça inclinada... Ele está morto.
A natureza toda pára. Os soldados olham para Ele, nossa Senhora e João também, porque o Eterno morreu para que todos pudessem ter vida e vida em abundância.
Jesus entregou o espírito, tudo está no controle de Deus. A morte foi vencida. Não precisamos nos desesperar. Tudo está no controle de Deus. Silenciemos sem nos desesperar”.

Com esta procissão temos a convicção de que a dor e o sofrimento humanos são permeados por uma presença materna; de que a dor e o sofrimento das mães são preenchidos e habitados por uma presença divina. Assim, nenhuma lágrima humana cai no vazio, no sem-sentido. Não! Todas as lágrimas dispensadas por nós, filhos e filhas muito amados de Deus, são recolhidas e guardadas no Seu coração. A ternura corajosa de Maria, vencendo a brutalidade hedionda daquele cortejo de subida de três condenados ao Calvário, comoveu o Céu para sempre... Naquele encontro o Céu também ganhou uma Mãe, Rainha dos Anjos e dos Santos. Uma Mãe compassiva. Neste momento, resplandeceu já a vitória da Ressurreição... Mas... Ainda que não tivesse se dado a Ressurreição, graças a este encontro de Jesus sofredor com Maria desolada no caminho para o Calvário, saberíamos do sentido da dor e do sofrimento do Filho do Homem e de todos os homens: tal sentido reside no amor, no amor expresso nos olhares cruzados de Jesus e Maria... Oxalá também nós, em nossas via-crucis cotidianas, cruzemos o nosso olhar com os olhares de Jesus e Maria... Então o sentido brilhará. Então a salvação entrará em nossa casa!
Estando todos tomado pelo orvalho embriagador da Virgem Mãe do Rocio, não podemos deixar de pensar na pessoa da Mãe neste encontro, que ora rememoramos. Maria vê seu Filho no caminho do Calvário, condenado a morrer pregado na cruz! E neste caminho, o encontro especial: Jesus encontra-se com Maria. O Filho, em direção ao lugar do sacrifício, encontra-se com a mãe dolorosa. Encontro confortador! Presença da mãe, certeza da mão amiga, garantia de solidariedade.
A mãe de Jesus acompanha o processo desumano e injusto de condenação de seu filho. Queria despedir-se de seu filho, junto com as pessoas amigas, espera o filho em algum ponto do calvário. Ao aproximar-se o triste cortejo, ela abre caminho e encontra-se com seu filho.
Nenhuma palavra! Falaram os olhos, falou o coração! Mãe e Filho se olham. Quanta dor, quanto sofrimento. O filho está desfigurado, a mãe angustiada! Maria repassa o nascimento, a infância e os anos da juventude do Filho. Relembra também os encontros e desencontros dos homens com Jesus durante sua vida pública. Como não vislumbrar-se, louvar a Deus por tão grande dádiva – a maternidade!? E hoje, quantas mulheres vemos, que movidas por um egoísmo exacerbado, desmedido, anticristão, ou ainda impulsionadas por um homem que diz lhe amar, não hesitam em descartar uma ou até mais de uma vida, dom mais sublime do amor de Deus, em nome de uma falsa liberdade.
Louvado seja Deus, porque Maria, não olhou para si, não foi egoísta a ponto de pensar a possibilidade criminosa do aborto! Que seria de nós, se tal arbitrariedade tivesse sido cometida por ela?
Que com este encontro entre com Jesus e Maria, possamos ter aprendido a abrir o nosso coração para encontramos com os marginalizados de nossa sociedade. Afinal Maria e Jesus continuam renovando o seu encontro nas suas atuações nos dias de hoje!

Oremos: Ó Virgem, Mãe e Serva, Senhora do Rocio, de Aparecida..., tu que soubestes estar do lado do teu Filho nas horas difíceis, dá-nos forças para que também, saibamos reconhecer e ajudar nossos irmãos sofridos na certeza de que ao fazermos isso estamos reconhecendo seu Filho Jesus presente nos irmãos. Assim seja. Amém!

DOMINGO DE RAMOS


 “Jerusalém, Jerusalém… “. A vida de Jesus é uma grande subida a Jerusalém, realização da visita escatológica de Deus a seu santuário. Mas Jerusalém não reconhece a hora de sua visitação. Os pobres, a multidão dos discípulos, o reconhecem, mas os detentores do poder não o querem reconhecer, nem ouvir o testemunho dos pequenos. Por isso, Jerusalém será destruída, porque não reconheceu a hora de sua visitação.
 
Ora, a salvação que Jesus traz torna-se eficaz na medida em que a assimilamos, numa vida semelhante à dele. O “caminho” de Jesus reassume o caminho de Israel, a subida a Jerusalém é chamada de “êxodo”. Mas é, sobretudo, a abertura do caminho da Igreja e dos fiéis. Jesus é o modelo do orante cristão. Agora, na hora decisiva da salvação, mais do que nunca o comportamento de Jesus é o modelo que os cristãos devem imitar, e seus passos, o caminho que eles devem seguir. Pois, se Jesus foi até Jerusalém e Gólgota, é daí que eles deverão partir, para que de Sião saia a salvação para o mundo inteiro.
Lc acrescenta à narração de Mc alguns aspectos característicos: na última ceia, Jesus se coloca como exemplo de serviço; os discípulos deverão enfrentar a mesma hostilidade que ele; Jesus aparece como o modelo do homem justo e piedoso, não só reconhecido como tal pelas mulheres ao longo do caminho, mas, sobretudo, mostrando sua compaixão para com elas e para com seus filhos. Porém, é sobretudo na cruz que se manifestam em Jesus a graça e a bondade de Deus, como também seu perdão tema caro a Lc: promete o paraíso ao “bom ladrão”. Em vez do Sl 22[2l], cujo início soa como desespero, Lc coloca na boca do Cristo morrendo na cruz uma palavra de plena entrega de sua vida (23,46).
Também não faltam exortações para a vida cristã: Simão deve fortalecer seus irmãos na fé. Os discípulos, em Getsêmani, devem rezar para “não entrar na tentação” (alusão ao perigo da apostasia, no tempo de Lc).
Vale a pena reler a Paixão segundo Lc tendo diante dos olhos as fórmulas do anúncio de Cristo pelos primeiros cristãos. Só alguns indícios: a acusação quanto à atividade de Jesus é formulada conforme o querigma; a morte de Jesus provoca arrependimento, como também acontecerá quando os apóstolos proclamarem o “querigma”. Para Lc, narrar a Paixão de N. Senhor não é obra de um historiador acadêmico, mas evangelização, provocar o confronto com o Filho de Deus hoje.
Foi diante da morte do justo que o mundo sentiu remorso. Hoje, o relato da Paixão de N. Senhor
segundo Lucas nos conta como os poderosos rivais, Herodes e Pilatos, tornam-se amigos às custas de Jesus, mandando-o de um para o outro como objeto de diversão. Conta também como um dos malfeitores crucificados com Jesus zomba do sofrimento do justo. Por outro lado, vemos Simão de Cirene ajudando Jesus a levar a cruz; as mulheres chorando o seu sofrimento; o bom ladrão solicitando a misericórdia de Jesus; o povão que se arrepende … Qual é a nossa atitude diante do sofrimento do justo? A de Herodes e de Pilatos? A das mulheres e do bom ladrão?
O oficial romano ao pé da cruz exclamou: “Realmente, este homem era um justo!” O que é ser justo, no sentido da Bíblia? Por que o justo sofre? A 1ª  e a 2ª  leitura no-lo dizem: por obediência a Deus. Então, Deus manda sofrer? Não é isso horrível e cruel? Não, Deus não manda sofrer o justo, seu “filho”. Só manda amar. Amar até o fim. Mas quem ama, sofre! O justo que ama, sofre, não por causa da paixão sentimental, mas porque ele não quer ser infiel ao amor que começou a demonstrar, e que se opõe à violência dos donos de nosso mundo! Nesta fidelidade, o justo pode perecer como Jesus, dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Ser justo é corresponder àquilo que Deus espera de nós, colaborar com o seu plano. É fazer como Zilda Arns, as quatro freiras assassinadas há poucos dias no Iêmen e tantos outros que deram a vida por aquilo que consideravam ser o desejo de Deus: o amor testemunhado aos mais pobres dentre seus filhos.

Diante da cruz do justo que morre, temos que optar: ou pelo lado dos que dão sua vida para viver e fazer viver o amor de Deus, ou pelo lado dos que se dão as mãos para suprimir a justiça; lado de quem carrega a cruz ou de quem a impõe…

terça-feira, 15 de março de 2016

Paróquia celebra 46 anos

Aos 13 de março de 1970, pelo Decreto nº 55, de dom Geraldo Pellanda,CP, bispo de Ponta Grossa-PR, foi criada a Paróquia de Nossa Senhora do Rocio, desmembrada da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, e entregue aos cuidados do Instituto dos Frades Menores Missionários, recém chegados na Diocese.
Com a instalação da Paróquia tornou-se insuficiente a pequena Igreja matriz. Por isso, em meados de 1972, foi iniciada a construção da nova Matriz.                                     Em 2012 a Diocese de União da Vitória entregou aos frades do Instituto Missionário Servos do Senhor, vindos de Eunápolis, BA, o cuidado pastoral da Paróquia de Nossa Senhora do Rocio, em União da Vitória.                                                                     No dia 25.10.2015 o Bispo diocesano Dom Agenor Girardi,MSC deu posse ao novo pároco, Frei Antoniel de Almeida Peçanha,MsS que no último dia 13 celebrou solenemente a Missa em ação de graças pelos 46 anos de criação, concelebrada pelo vigário Frei José Romão,MsS e pelo diácono Marcos Vinícius, e cantada solenemente pelos postulantes Missionários Servos do Senhor.                                                          Em seguida à Missa participamos todos dum saboroso almoço de fraternização!