Caríssimos irmãos e irmãs com esta procissão
que realizamos queremos, a cada ano, relembrar a paixão e morte de Jesus Cristo
através do doloroso encontro entre o Senhor dos Passos e Virgem Senhora das
Dores. Nesta procissão a Igreja então reflete sobre o célebre Sermão das Sete
Palavras, ou melhor, sete frases ditas por nosso Senhor Jesus na cruz.
Ao olharmos para essas imagens
somos movidos a uma profunda conversão e sincera penitência.
Contemplando-as, nossa atitude
não pode ser outra senão a dum silêncio grande e profundo, dado que a imagem de
Nosso Senhor dos Passos mostra-o com o rosto desfigurado, com a cruz às costas.
E podemos nos perguntar sobre o porquê desta cruz!
Jesus carrega a cruz de nossos pecados, de modo especial do grande pecado social da indiferença; quando muitas vezes nós contribuímos para que ele cresça cada vez mais, quando discriminamos, excluímos, desprezamos aquele(a) que é nosso(a) irmão(ã), quando não cuidamos de nossa Casa Comum que Deus nos deu fazendo dela um lugar saudável, no qual a fraternidade e a justiça corram como rios de água viva, mas simplesmente sugamos, exploramos o que podemos, em desatenção às gerações futuras, sem cuidado, só movidos pela ambição dum lado e desleixo do outro . Ao receber a sua cruz, Jesus carrega os pecados e a cruz de cada um de nós.
Vemos na expressão dos rostos das imagens dor e sofrimento. OLHEMO-AS!
Algumas imagens de Nossa Senhora das Dores mostram-na abraçada a uma espada, lembrando certamente a profecia de Simeão: “Uma espada de dor te traspassará a alma”.
Pensemos numa mãe que vê seu filho traspassado pela salvação de outros, e qual a resposta desses outros? De nós, por exemplo, qual nosso sinal de gratidão? Como buscamos corresponder a tal grande amor?
Meus irmãos e irmãs, contemplando este encontro, busquemos abrir nosso coração e nossa mente para os encontros que devemos fazer diariamente em nossa vida como todos aqueles marginalizados pela sociedade. Nosso Senhor Jesus Cristo, na clareza frente à missão que recebera do Pai, se põe na direção dos homens e com eles estabelece vários tipos de encontro: com as multidões, com os pequenos, individual com diversas pessoas. Dentre esses, vale-nos elencar alguns como:
- com as autoridades: civis, militares, religiosas, todas se sentiram incomodadas com a pregação de Jesus. O viram como uma ameaça ao seu comodismo, com seus cuidados aos próprios interesses simplesmente, suas opressões ao povo; enquanto o plano de Deus é de estabelecer a justiça, da prática do amor;
- com o povo: contrários à situação primeira, as pessoas simples, pobres, acorriam ao encontro de Jesus e tais encontros eram gratificantes para Ele, porque via uma multidão disposta a receber a salvação que Ele oferecia, a crer na sua Verdade, segui-Lo como único Caminho;
- com a samaritana: um encontro particular. Ela custa entender a atitude daquele judeu de falar com ela. Jesus lhe propõe a libertação. Desse encontro renasce a alegria, a esperança, a certeza de vida fecunda em Cristo;
- com o leproso: estes eram obrigados a viver isolados, eram objetos de desprezo. E Jesus quebra o esquema, deixando que o leproso se aproximasse d’Ele. Para Ele impuro não é quem tem a doença de pele, mas quem fabrica a maldade em seu coração. A verdadeira impureza vem de dentro, não se vê. Lição para nós que costumamos classificar as pessoas como “boas” e “más”... ou mediante a simpatia e a antipatia que inspiram;
- com os discípulos: com estes Ele mantém um contato mais constante, deposita neles sua confiança, os instrui. Um o trai; outro se destaca pelo seu amor ardente a Jesus, mas não entende bem a proposta de Jesus e usa de violência; outro irá fraquejar, tirar o corpo fora.
Que seja para nós, esta procissão, grande ocasião de revermos nossa relação com Deus, nossa fidelidade à Igreja, deixada a nós pelo próprio Cristo!
Reflitamos e rezemos, pois, com suas palavras na cruz:
Para os algozes que o levaram e prenderam à cruz
Jesus roga ao Pai:
1. Pai, perdoa-lhes porque não sabem
o que fazem!
"O Senhor nos diz em Sua Palavra para amarmos
e orarmos por nossos inimigos. É Ele mesmo quem nos convida para aprendermos
d'Ele a viver o perdão".
Ao ladrão arrependido Ele responde:
2. Hoje estarás comigo no paraíso.
"O Senhor nos convida para
uma mudança de vida, para uma conversão concreta. E para recorrermos à Sua
Misericórdia, confiantes no seu Amor, fiéis à sua Palavra".
Ao
discípulo amado e sua Mãe, ciente de ter cumprido sua missão, Ele manifesta:
3. Mulher eis aí o teu filho, filho
eis aí a tua mãe.
“João
cuidou de Maria, mas ela amou muito mais a esse discípulo. Hoje, Jesus está
dizendo: 'Mãe eis aí os teus filhos'. Jesus está entregando você agora a Virgem
Maria, ao coração dela. Se deixe ser cuidado por ela. Entregue sua família,
seus negócios, suas dores, todo o seu ser a ela. Peça à mãe, que o filho
atende!”
Ao Pai,
numa total manifestação de sua humanidade, rogou:
4. Meu
Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?!
“Orar não
é dizer belas palavras ao Senhor, mas é abrir o coração. Esse grito pode ser
assumido em nossas realidades: 'Porque eu te abandonei Senhor? Porque escolhi
estar longe?' É a dor de quem abandonou e quer voltar. Que as dores de nosso
Senhor e da Virgem Maria provoquem em nós contrição, e a resposta de nosso
coração de voltarmos à vontade do Pai” .
Mais uma
vez manifesta sua humanidade diante os soldados:
5. Tenho
sede!
“Jesus
experimentou a dimensão humana. Ele sabe o que é sofrer e conhece as dores que
você tem. Ele tem sede de almas puras, de homens e mulheres bons que O sigam.
Tem sede de você, filho, filha. Ele está te chamando! É nossa santidade de vida
que vai matando a sede de Deus. Diga ao Senhor a sede que você tem, e não se
canse de buscar saciá-la!”
Tendo clareza de haver cumprido fielmente a vontade
do Pai, reza em louvor:
6. Tudo
está consumado!
"Nada
n'Ele há de belo ou atraente. Ele nada resguardou para si, para salvar a
humanidade. Renova em nós a graça da fidelidade Senhor, para que possamos ir
até o fim por amor, como o Senhor foi. Pela força do alto, do Espírito Santo!”
No
culminar de sua Missão, ao fazer-se Homem junto a nós, pôde rezar ao Pai:
7. Pai,
em tuas mãos entrego o meu espírito!
"Diante
disso, não se tem mais nada a dizer. É hora de olhar para Jesus. O Sangue que
resta ainda escorre pelo Corpo. Cabeça inclinada... Ele está morto.
A
natureza toda pára. Os soldados olham para Ele, nossa Senhora e João também,
porque o Eterno morreu para que todos pudessem ter vida e vida em abundância.
Jesus
entregou o espírito, tudo está no controle de Deus. A morte foi vencida. Não
precisamos nos desesperar. Tudo está no controle de Deus. Silenciemos sem nos
desesperar”.
Com esta procissão temos a convicção de que a dor e
o sofrimento humanos são permeados por uma presença materna; de que a dor e o
sofrimento das mães são preenchidos e habitados por uma presença divina. Assim,
nenhuma lágrima humana cai no vazio, no sem-sentido. Não! Todas as lágrimas
dispensadas por nós, filhos e filhas muito amados de Deus, são recolhidas e
guardadas no Seu coração. A ternura corajosa de Maria, vencendo a brutalidade
hedionda daquele cortejo de subida de três condenados ao Calvário, comoveu o
Céu para sempre... Naquele encontro o Céu também ganhou uma Mãe, Rainha dos
Anjos e dos Santos. Uma Mãe compassiva. Neste momento, resplandeceu já a
vitória da Ressurreição... Mas... Ainda que não tivesse se dado a Ressurreição,
graças a este encontro de Jesus sofredor com Maria desolada no caminho para o
Calvário, saberíamos do sentido da dor e do sofrimento do Filho do Homem e de
todos os homens: tal sentido reside no amor, no amor expresso nos olhares
cruzados de Jesus e Maria... Oxalá também nós, em nossas via-crucis cotidianas,
cruzemos o nosso olhar com os olhares de Jesus e Maria... Então o sentido
brilhará. Então a salvação entrará em nossa casa!
Estando todos tomado pelo orvalho embriagador da
Virgem Mãe do Rocio, não podemos deixar de pensar na pessoa da Mãe neste
encontro, que ora rememoramos. Maria vê seu Filho no caminho do Calvário,
condenado a morrer pregado na cruz! E neste caminho, o encontro especial: Jesus
encontra-se com Maria. O Filho, em direção ao lugar do sacrifício, encontra-se
com a mãe dolorosa. Encontro confortador! Presença da mãe, certeza da mão
amiga, garantia de solidariedade.
A mãe de Jesus acompanha o processo desumano e
injusto de condenação de seu filho. Queria despedir-se de seu filho, junto com
as pessoas amigas, espera o filho em algum ponto do calvário. Ao aproximar-se o
triste cortejo, ela abre caminho e encontra-se com seu filho.
Nenhuma palavra! Falaram os olhos, falou o coração!
Mãe e Filho se olham. Quanta dor, quanto sofrimento. O filho está desfigurado,
a mãe angustiada! Maria repassa o nascimento, a infância e os anos da juventude
do Filho. Relembra também os encontros e desencontros dos homens com Jesus
durante sua vida pública. Como não vislumbrar-se, louvar a Deus por tão grande
dádiva – a maternidade!? E hoje, quantas mulheres vemos, que movidas por um
egoísmo exacerbado, desmedido, anticristão, ou ainda impulsionadas por um homem
que diz lhe amar, não hesitam em descartar uma ou até mais de uma vida, dom
mais sublime do amor de Deus, em nome de uma falsa liberdade.
Louvado seja Deus, porque Maria, não olhou para si,
não foi egoísta a ponto de pensar a possibilidade criminosa do aborto! Que
seria de nós, se tal arbitrariedade tivesse sido cometida por ela?
Que com este encontro entre com Jesus e Maria,
possamos ter aprendido a abrir o nosso coração para encontramos com os marginalizados
de nossa sociedade. Afinal Maria e Jesus continuam renovando o seu encontro nas
suas atuações nos dias de hoje!
Oremos: Ó Virgem, Mãe e Serva, Senhora do Rocio, de
Aparecida..., tu que soubestes estar do lado do teu Filho nas horas difíceis,
dá-nos forças para que também, saibamos reconhecer e ajudar nossos irmãos
sofridos na certeza de que ao fazermos isso estamos reconhecendo seu Filho
Jesus presente nos irmãos. Assim seja. Amém!