segunda-feira, 4 de junho de 2018

HOMILIA NO 7º ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO


Hoje, no dia em que celebramos o Dies Domini - dia do Senhor -, recordamos que foi num domingo que Cristo venceu todas as forças do mal e ressuscitou, também celebro ação de graças por sete anos de Sacerdócio, sete anos que subi ao altar do Senhor, aproveito, portanto, para fazer algumas considerações (a partir de um texto de Dom Murilo S. R. Krieger, Arcebispo primaz de São Salvador-BA), principalmente em vista do trabalho aos domingos bem como acerca do sacerdócio:
  
 
 A Ressurreição de Jesus aconteceu no primeiro dia da semana, quando ele apareceu glorioso a seus discípulos e discípulas. Por isso, os apóstolos e as primeiras comunidades cristãs passaram a chamar esse dia de "domingo", "Dies Domini", dia do Senhor, e os primeiros cristãos passaram a reunir-se sempre no primeiro dia da semana, "o dia do senhor", para celebrarem a presença do Ressuscitado em meio à comunidade e para partilharem seus bens entre os necessitados.


Os primeiros cristãos mudaram, assim, o sagrado costume judaico de santificar o dia de sábado. A informação bíblica de que Deus descansou no sétimo dia, abençoando-o e santificando-o, mostra a clara intenção de marcar o shabbat como dia consagrado ao repouso e ao culto religioso. Oprimidos como escravos, primeiramente no Egito e, depois, no exílio, sob o domínio da Babilônia, os israelitas aprenderam de Javé que há uma relação intrínseca entre fé e vida. Crer em Javé é sinal de vida e de liberdade. O sábado tornou-se, então, sinal máximo dessa relação: a fé no único senhor e libertador é garantia da preservação da vida pessoal e comunitária. O desrespeito ao sábado, ao contrário, era sinal de idolatria, de ganância, de exclusão dos pequenos, de opressão do povo trabalhador. Guardar o sábado era crer em Deus e garantir a vida. Não guardar o sábado levava à descrença e à morte do povo.




A santificação do sétimo dia para o povo judeu, prescrita no Antigo Testamento, passou, por disposição dos Apóstolos, a ser praticada no primeiro dia da semana, o domingo, dia santificado dos cristãos. Ao longo de vinte séculos de história, a Igreja Católica, juntamente com as outras igrejas cristãs, sempre reconheceu o particular sentido sagrado desse dia, vendo nele a Páscoa da semana, que torna presente a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Domingo é dia do Senhor, que nos quer todos reunidos para participar da Eucaristia, ouvir sua Palavra e celebrar a ação de graças. O domingo é, enfim, o dia da vida, da festa, da alegria. Domingo não é um feriado, mas um dia santificado. No feriado, cada um faz o que quer. No domingo, deve-se fazer o que Deus quer. Esse é o sentido do terceiro mandamento: guardar e santificar o dia do Senhor.

Certos segmentos da comunidade querem transformar o domingo em um dia a mais, melhor que os outros, para se fazer dinheiro. O Cristão deve manifestar sua posição contrária ao propósito dos que pressionam para que se permita o funcionamento de estabelecimentos comerciais no domingo. Essa medida representa prejuízo para o justo descanso e para o cumprimento das obrigações religiosas dos funcionários desses estabelecimentos, elo mais fraco da cadeia produtiva.

Diante do exposto acima, tomo o direito de expor aqui algumas sugestões:
- aos governantes de nossos municípios, que façam observar o descanso semanal em dia de domingo;
- aos vereadores, que não aprovem projetos de lei que facilitem a abertura do comércio aos domingos;
- aos donos de casas comerciais, que não abram suas lojas aos domingos;
- aos fiéis católicos, cuidemos para não fazer do domingo dia de compras em shoppings centers, supermercados e lojas comerciais;
- a todos os cidadãos e cidadãs, que acreditem na força libertadora da fé no Deus da vida e cuidem para não se deixarem vender ao deus do mercado.

Nesses 7 anos de sacerdócio, com alegria digo, 50% foram vividos aqui, nos quais tenho crescido muito e aprendido a ser padre, pastor. Aproveito para partilhar uma palavra aos jovens e às jovens no sentido de recordar-lhes que é bela a vocação, o chamado ao Sacerdócio e à Vida Consagrada, recordar-lhes que o Sacerdócio e a Vida Consagrada são também formas concretas de realização pessoal; que a consagração total ao Senhor e ao seu Evangelho traz muita alegria, não sem incompreensões e, às vezes, perseguições, mas foi Jesus mesmo quem nos garantiu: “Em verdade vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida — casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, vida eterna” (Mc 10,29). Assim, Jesus não nos engana, não nos garante uma vida fácil, sem dificuldades, sem tribulações e sem perseguições, mas nos garante: “No mundo tereis tribulação, mas tende coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,13).
É belo ser sacerdote, é bela a vocação sacerdotal, mesmo sabendo que o nosso chamado se deu sem mérito algum de nossa parte e que agora, mesmo não conseguindo fazer tudo como nos pede o Senhor conforta-nos a palavra de São Leão Magno, Papa, no seu Sermão III de Natal: “Se nos sentimos fracos e lentos no cumprimento das obrigações do nosso cargo, quando desejamos proceder com entusiasmo e coragem, somos impedidos pela fragilidade de nossa condição, gozamos, porém, da incessante proteção do onipotente e eterno Sacerdote que, semelhante a nós e igual ao Pai, fez a divindade descer até a nossa condição humana, elevando o homem à condição divina. Alegramo-nos, então, com a justiça e a santidade pelo que ele estabeleceu: embora tendo delegado a muitos pastores o cuidado de suas ovelhas, nunca abandonou ele próprio a guarda do seu rebanho” (Liturgia das Horas, Comum dos Pastores). Sim, através dos pastores colocados hoje à frente das comunidades, é o Senhor mesmo que conduz o seu povo. Conforta-nos saber que é Cristo, o Bom pastor, que age através de nós e que por isso, “nós nos apresentamos como vossos servo por causa de Cristo Jesus, Senhor” (2Cor, 45).
Hoje, mais uma vez, com satisfação, confirmo o meu “sim” a Deus que me chamou “pelo nome” e à Igreja que me escolheu para o Ministério Sacerdotal, me permitindo subir ao altar do Senhor, e a Ele oferecer meu louvor.

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